Plim! Mensagem nova no WhatsApp. Oi tia, tudo bem? Brigada pelo convite, pode contar com a minha presença. E em anexo um vídeo. É temática, de um desenho que desconheço, desses Rei Leão e 101 Dálmatas da mais nova geração. Não entendi onde é. Ah, tá no fim do vídeo. Caramba, melhor memorizar, pra não precisar assistir várias vezes, a música é daquelas que se agarra na cabeça uns 3 dias.
Mas na minha época… – falou a saudosa Millenium na crise de se aproximar dos 30 anos. Na minha época os convites eram em papel. Poxa, mas bacana ser tecnológico, não é mesmo? A natureza agradece e tudo mais.
Concordo, subconsciente. Mas guardo comigo um super trunfo: as lembranças mais afetivas dos meus primeiros anos, são dos convites que minha mãe recortava e escrevia a mão.
Lembro de um aniversário temático de borboleta. Cada criança ganhava uma de papel, meticulosamente recortada, com todas as informações necessárias no verso. E ia muito além, a decoração inteira da festa fora meticulosamente feita com carinho e precisão, apesar de nem tanta habilidade. Borboletas ao entorno, do bolo ao envolto. Agradeço a tia Carmen, por cada borboleta confeccionada com minha mãe. Cada picote de tesoura e rabisco de lápis feitos.

Eu deveria entender que o fim do convite físico estava chegando com os infernais eventos do Facebook. Era a premissa do que viria. Ainda assim fico saudosa de comemorações tão personalizadas e manuais. Toda decoração feita a quantas mãos fossem necessárias.
Essa memória afetiva nada mais é que uma reação a pessoalidade que as festas pareciam ter e que hoje parecem perecer.
– PAUSA DRAMÁTICA –
Precisei presenciar a festa para ser capaz de tecer mais comentários. Talvez com olhos voltados para as criticas acima dos valores, ainda assim, esse texto pertence a uma nostálgica jovem adulta.
Acredito que o assunto tem capacidade de emaranhar milhares de ramos de questões pessoais e sociais. Com isso em mente, tentarei me ater ao assunto iniciado.
Um aniversário temático. Gosto desse tipo até hoje. Entretanto, uma celebração sem nenhum toque pessoal. É um… sonho? Uma comemoração marcada pelas empresas que foram contratadas para fazer parecer tudo instagravelmente perfeito. E estava, não se engane, mas o que mais foi escolhido além do tema da moda infantil?
E o que vem além mídia? O que acontece por detrás de um telefone, uma conta, um arroba? Você curtiu de fato o aniversário de sue filhe/sobrinhe/afilhade/criança que você apenas conhece os pais? Você parou para pensar o que significaram esses últimos anos comemorados? Anos de não só chegada ao mundo, mas de primeiros contatos. Uma celebração do que é o descobrimento de ser um ser humano, mesmo sem ter noção alguma do que isso significa. Aprender a falar, se relacionar com o entorno, aprender o carinho incondicional que idealisticamente gostaríamos de receber, mas que fica muito mais bonito com uma postagem.
#gratiluz
Eu não. Apenas tomei um porre de gin tônica do bar de drinks. Minha sobrinha certamente nem sabe quem sou. Feliz dia, sobrinha.
Att. uma tia em crise existencial.
