Cal, você brincava de bonecas quando era criança? Não exatamente. E nessa parte, obrigo-me a louvar meus pais por nunca imporem brinquedos de gêneros pseudo pré-determinados. Acontece que nunca liguei pra boneca nem pra carrinho. Era da turma dos impecáveis bichinhos (vivo para uma rima).
Comigo não tinha essa de Barbie. Autorama achava até divertido. Mas vamos ser sinceros, o que é melhor que uma fazendinha? Dos mais diversos tipos e tamanhos, meu criadouro de plástico era composto pela fauna aquática, terrestre, minúscula e gigantesca. Quem cuidava de tudo? Eu mesma.

Mamãe diz que minhas primeiras palavras foram “au au”. Acredito, ainda mais pelo reforço na narrativa. Existe um video do primário em que todas as crianças precisavam responder o que queriam ser quando crescessem (ouso dizer que até hoje não tenho total certeza da resposta). Dizem as más línguas (ou um VHS antigão – jovens, pesquisem o que é, pois me recuso a responder) que minha resposta foi certeira:
– Carolina, o que você quer ser quando crescer?
– Veterinária e fazendeira.˙
– Por que?
– Porque não vou precisar pagar pra cuidar dos meus bichos.
Eu ouvi empreendedora? Eis que o sonho se manteve por muitos anos, com um histórico invejável por amantes de bichos (pelo menos os que moram em apartamento; sigo aguardando a oportunidade de ter uma vaca). Gatos, cachorros, peixes, tartaruga, marreco, pintinho (nada de amarelinho não, com a penugem mais carvão que o saudoso churrasco de domingo com litrão gelado).
Sou bicheira, no sentido mais desafortunado da palavra. Fã de bichos mesmo. Na época do CA (não a loja; o primeiro ano? admito me perder nas novas nomenclaturas colegiais), fiz uma campanha arretada para ganhar um cachorro. Campanha essa que, ouso dizer, deixaria muito marketeiro no chinelo.
Família, quero um cachorro.
Entenda, sempre tive gatos, meus pais achavam tranquilos de cuidar – o que de fato são. Mas, para uma criança de 6 anos, queria aventura, parceiragem, um animalzinho que – teoricamente – iria me respeitar e acompanhar.
Lanço aqui minha estratégia publicitária, gratuitamente. Não precisa se inscrever, mas também não mando uma caneta monografada de mimo. A fim de demarcar território, e deixar publicamente exposta a necessidade de um canino, espalhei post-its pela casa e, primordialmente, em tudo que sabia que meu pai mexia (o tal anti-cachorro do rolê). Com os mais diversos dizeres, de “por favor me dá um cachorro”, a literais desenhos de tal, o fundamental era passar a ideia: preciso de um cachorro. Acho que ficou bem salientado.
A seguir, percebendo que os esforços das tropas aliadas estavam sendo em vão, parti para a próxima (e louca) ideia. “Bem vindo ao Art Attack!” Alguém lembra? Um episódio me marcou, e foi o episódio responsável por tornar tudo realidade. COMO FAZER UM CACHORRO DE CAIXINHA DE FÓSFORO.
Preciso dizer mais alguma coisa?
Meu primeiríssimo DIY, talvez? Uma combinação de tudo que amo?
Fiz.
Mais que fiz, pintei minha caixinha como meu querido doguinho, amarrei um barbante e levei para a pré escola. Me achei incrível. Eu. Tenho. Um. Cachorro.
Papi, talvez muito lúcido para minha onda, se preocupou. Minha mãe conta que ele apenas disse: estou preocupado, vamos dar um cachorro pra ela?
Consegui um cachorro. De verdade dessa vez.
Eu queria agradecer ao Art Attack por essa ideia. A caixinha de fósforo que se tornou disponível em casa. Aos astros que me proporcionaram o virginianismo metódico e obstinado. E a mim mesma, por tudo (é assim que faz, Anitta?). Não podia deixar de agradecer ao meu pai que, mesmo por breve momento, acreditou na minha loucura o suficiente para me proporcionar um canino. Pai, é uma loucura do bem, eu juro.
Comecei esse texto pensando em escrever sobre gatos, acabei falando sobre minha primeira conquista animal como parte da família. Não era o objetivo, deixo para uma próxima auto reflexão. Esse primeiro cachorro foi de um marco inigualável, quem conheceu se lembra bem. Deixo aqui minha eterna e primeira homenagem a Mitchu.



Icônico 🙂
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