Encararei a página em branco a minha frente como um confessionário, e sendo o tal, compartilharei um pecado particular.
Oi, meu nome é Cal e tenho um prazer único em ver pessoas tropeçando na rua. Simplesmente me traz alegria observar um ser humano catando um cavaco.
Não tenho certeza se esse é o espaço pra isso, mas preferi acreditar que expondo minha questão, ficaria mais fácil de lidar com ela. Talvez até ache semelhantes.
A certeza de como começou foi perdida, talvez em um equívoco. Como o primeiro não importa, e sim o mais intenso, sei exatamente quando tomei gosto. Trabalhando em uma loja de rua, passava todo momento aguardando, esperançosamente, pelo momento em que o pé de um certo alguém iria de encontro ao buraco de uma calçada bem específica. A paisagem perfeita na vitrine urbana que era o lado de fora do comércio.
Pedras portuguesas, não sei quem lhes inventastes, mas ponho-lhes em minhas preces, que, apesar de inexistentes, fortalecem a intensidade da gratidão, a nível de uma falha Shakespeariana.
Prefiro abstrair a realidade da vergonha sentida pelo desacertador de passos. Então atire a primeira pedra quem nunca tropeçou, pois esta há de ser o estopim para o desequilíbrio desprovido de queda.
Mais alguém quer compartilhar alguma coisa?